Dia do Repórter

Dia do Repórter

Foto: Bruno Santos, via Folhapress



Meu filho de seis anos de idade é uma máquina de fazer perguntas. Essa etapa da vida é uma delícia, mas o pai tem que ter muita atenção e paciência para responder a tantos questionamentos. Há pais que preferem não dar a devida atenção para isso. Perde-se a grande oportunidade de, além de informar o filho, formá-lo.

 
Informação é formação, é ponte, é caminho, é via básica para o desenvolvimento e amadurecimento. O mesmo que meu filho faz comigo, eu sempre fiz com meus professores e minha mãe. Muito questionador, cursei jornalismo, fui repórter de rádio e TV e sempre valorizei e dei graças por poder fazer perguntas. Como é bom ter a liberdade para perguntar!

O ato de questionar é algo que precisa ser redimensionado na democracia brasileira. Há sinais, cada vez mais recorrentes, de movimentos contrários aos questionamentos, opostos à liberdade de expressão.

 
Neste esquema social da democracia, a figura do repórter é muito significativa. O imaginário popular talvez o conceba como alguém que “tem um bom salário”, “ganha dinheiro na TV”, “é famoso”, mas a realidade é oposta. 


Hoje, os jornalistas passam por uma das suas piores crises de identidade profissional, em decorrência da desvalorização salarial, das ameaças políticas e econômicas, dos variados tipos de assédios nas redações e, por incrível que pareça, pela falta de apoio da opinião pública ao serviço prestado, de produção de conteúdo informativo. Constantemente somos ameaçados e agredidos por setores reacionários. 


O repórter deveria ser aclamado, não pelo seu ego, mas pelo serviço que presta à democracia. 


Neste tempo em que qualquer um grava, tira fotos, edita e pode ser repórter, urge a necessidade de espaços qualificados de referências para se consumir conteúdo com credibilidade.

 
Nesta semana em que comemoramos, no dia 16 de fevereiro, o Dia do Repórter, perdemos o grande Ricardo Boechat. Penso que seja um sinal emblemático, algo místico, coadunado pela fé, devido ao momento histórico que o Brasil vivencia.


Boechat deixa uma lacuna, como um grão de trigo que morre para florescer uma nova geração. Que a morte de Boechat desperte no Brasil uma nova capacidade de se produzir grandes repórteres, sem a ilusão de que isso pode acontecer sem a devida valorização desse profissional. 


Se queremos uma democracia sólida e madura, devemos ter liberdade de expressão como premissa e um bom jornalismo como via de regra.

por Everton Barbosa