Dia da Solidariedade

Quando recebi o convite da Editora Ideias & Letras para escrever sobre solidariedade, prontamente aceitei por sentir-me muito à vontade para falar sobre esse tema que tanto me encanta.

Em meu cotidiano a solidariedade é muito visível nas experiências de economia solidária das Cooperativas de Reciclagem[1] de Resíduos Sólidos.

Sobre uma dessas experiências publiquei o livro Economia Solidária e Vínculos, que traz exemplos de como os(as) catadores(as) praticam a solidariedade em suas relações, promovendo outras formas de trabalhar.

A economia solidária é uma proposta de trabalho e de vida que visa transpor a lógica capitalista e estabelecer relações cooperativas e solidárias, considerando o contexto socioambiental e, fundamentalmente, resgatando a dimensão humana, tendo como princípios a democracia, a autogestão, entre outros.

Neste sentido, a cada oficina realizada nessas cooperativas, aparecem relatos do tipo:

 - O colega não pode vir trabalhar porque tinha que resolver questões pessoais e nós conversamos e decidimos não descontar este dia de trabalho dele;

- Tem uma cooperativa da cidade que não tem caminhão e a gente ajuda eles com cargas, com material. Eles têm pouco material pra triar, daí ligam pra cá e a gente manda carga pra eles;

- Ela decidiu sair da Cooperativa, mas ficamos preocupadas como viverá daqui pra frente, vamos atrás dela conversar;

- Eu errei neste mês porque faltei alguns dias, deixando as colegas na mão;

- Vamos dar uma chance para ele se recuperar, está precisando de tratamento, não vamos desligá-lo da cooperativa...

[1] O termo “reciclagem” aplicado ao lixo, “traduz o reprocessamento de resíduos que permite sua reutilização, ou seja, cria novamente o valor de troca e uso daquilo que um dia foi lixo” (Conceição, 2005, p. 39).

Todas essas falas traduzem um pouco do conceito de solidariedade.

Segundo Scholz (2009), pensar em um trabalho coletivo requer, primeiramente, um desejo, um estímulo, uma vontade particular, que se manifesta através da solidariedade com pessoas que comungam do mesmo objetivo, mesmo que tenham particularidades distintas.

Para Coraggio (2001), solidariedade não implica igualdade, nem sequer equidade, mas regras de distribuição e algum tipo de acordo de reciprocidade, o qual é crucial na perspectiva do trabalho coletivo, posto que a interdependência entre os trabalhadores gera resultados.

Razeto (2005) destaca que a solidariedade envolve a partilha de sentimentos, opiniões, dificuldades, dores, e propicia atuar de forma dependente, estabelecendo relações recíprocas entre as pessoas. Conforme atesta Ullmann (1993), através da solidariedade há mútua vinculação entre as pessoas, ou seja, ocorre um processo bilateral.

Tedesco (2001) propõe que a solidariedade deve ser parte integrante do sistema econômico como um todo (produção, distribuição, consumo, serviços, etc.), proposta essa defendida pela economia solidária.

Fica evidente, portanto, que a solidariedade vai muito além de ajudar a quem precisa ou a quem se encontra em situação de vulnerabilidade; é mais que doação de presentes em datas comemorativas. A solidariedade é uma prática diária, que vem de dentro para fora, desde a nossa infância quando brincamos e dividimos os brinquedos com os amigos, sejam eles imaginários ou não.

É uma prática que está presente em nossas ações cotidianas, quando respeitamos os assentos prioritários, as regras de trânsito, nos responsabilizamos pelo descarte adequado dos resíduos, propagamos o consumo responsável e buscamos a harmonia entre os seres.

Por fim, lhe faço um convite: resgate a sua essência, viva a solidariedade diariamente!

por Mª Isabel Rodrigues Lima